17.12.06

amarelo queimado

Na volta pra casa,
uma nuvem pegava fogo.
Sobre os joelhos,
falhos,
o peso da tarde.
Baixei a cabeça e
parei de tentar rezar.


11.12.06

fico na espera

Sabe que aqui venta demais, é sempre fresco, e sempre novo velho a erguer desconstruir. Me empresta essas vassouras esquema espaço. É uma poeira de uma outra espécie, se acumula nos cantos, sempre, mas também sobre a mesa e nos meus braços, costas. Da janela: ainda tudo encoberto. Eu te mostro, aponto, mas a culpa não é tua: é impossível enxergar, tanta névoa. Este apartamento. Eu diria é muito branco. Eu cozinho um ovo. Eu não fico triste. Eu não durmo. Abre a tua janela, esquece os vizinhos, me mostra o cinza de uma novidade antiga. Tão longe, essa volta. Sempre achei incrível o azul do fogo ser a parte mais quente, existir coisa mais quente dentro do fogo; e o teu olhar. Nem sei por que a espera de tantas palavras. Eu aponto; também te contavam que não se pode apontar o dedo para uma estrela, que nasce uma verruga? É muito, muito claro. É tanta luz que não se vê nada. Eu sempre roí as unhas, dedos longos. É mesmo difícil dar um passo, eu vacilo diante do sol. Não raia. É meio da madrugada. Estrela nenhuma. A janela fechada, o vento trancado lá fora e esses carros, pra onde eles vão? Vem. O escuro acolhe mas não aquece. Eu disse seis, mas são oito pistas. Quatro pra lá, quatro pra cá. Eu, paralela. No fogão a água fervendo faz ploc ploc ploc; seguro esse silêncio feito de sons.