28.1.09

Fogo fátuo

Eu não lembro onde ela estava na última vez em que vi minha gata,
e eu não sei onde é que os pelos caídos dela ficam esquecidos agora.

Onde é que estão minhas pernas finas, meu walkman, meus cartazes?
Cadê o viço dos meus pais, a cor dos meus cabelos, a barraca de camping, o jogo da vida?

Não sei mais do meu livro nem das minhas mãos;
cadê a melodia fácil das palavras, as linhas, e aquilo que poderia ter sido meu brilho? Onde foi que eu meti as maravilhas da pontuação?

Nem sei em que canto deixei a cama do meu primeiro amor.

Não tenho nem por onde recomeçar; perdi o fio da meada; onde foi parar meu coração?

Que diabos, os anos passam, e o peito resiste e o peito reabre e acolhe e explode e sufoca, e o corpo persiste, o corpo emagrece e engorda, as pernas andam e a boca come. Enquanto o pulmão expulsa o ar num suspiro, com esforço constante o espírito prende a respiração.


22.1.09

Oba!

Mais um blog neurótico sempre cai bem.
Visitem a página de quadrinhos do Thiago Camelo: Elétrons e Prótons.


9.1.09

Então vamos lá: um porão vazio, nada pra comer.
Mais: tá escuro. Quero dizer, bem escuro.
Só que isso ainda não basta.
Há um coração ali,
um coração dentro de um peito,
um peito à frente de uma pessoa,
um peito como um escudo.
Contra nada: é um porão muito frio;
há um copo de água que nunca termina, e uma sede que, enfim, se mata.
Um porão vazio, muito escuro.
Um coração ali, protegido;
não tem perigo nenhum.