17.4.06

diario intimo

Cafonice e nonchalance.
Dá uma culpa desgraçada ficar triste no Rio;
daí a gente toma um monte de chope,
ou comemora o ano novo no meio de abril bebendo champagne um pouco morno no trânsito ao longo da lagoa, sentindo uma nostalgia cruel, cruelmente propositada.
O volante e a garrafa,
e a velocidade,
no vento,
no vidro,
na curva.
Moët & Chandon -
alguma coisa tem que ser de verdade.
Dá uma culpa desgraçada.
Mamãe Excel.
Papai AutoCad.
Filhinha no cinema,
filhinha quer ser artista,
acha que é intelectual,
e no fundo só quer casar.
Uma culpa desgraçada.
E eu, numa mesma noite - vê? -, disse que pretendia comprar um peixe e uma bicicleta.
Sobre mim: o feminismo é um movimento desonesto.
Terça tem aula,
quarta também.
Na última eu chorei, meu bem, queria tanto comentar com você: elas são muito burras.
No, not baby anymore.
Mesmo com você,
e você tão longe do Rio,
e dentro de mim nessa culpa desgraçada.
Diria, irritado, que eu tou escrevendo como você.
Mas, vê, não, não, sou eu quem não quebra nada.
Não é mais páscoa, e não estamos mais juntos, e eu nem sei seu telefone, seu endereço aí tão longe. O que é o tempo?
(Segredo: você é lindo. O homem mais bonito que já me deu a mão.)
Ela escreveria algo assim sobre você?
Ela te ama tanto quanto eu?
Eu gosto quando eu digo as coisas assim e você acha tudo tão feio,
feio eu perguntar gritando
- O amor que você sente por ela é tão grande...
quanto o quê?
que o quê?
O amor que você sente por ela é uma frase que não deveria existir.

Ponto; parágrafo. Não é um filme, é um seriado. E tem que dar audiência, então a gente cria novos personagens. Dá falas a eles e espera as falas voltarem, tortas, títeres, eu não gosto mais de ninguém. Não confio mais em ninguém.
Faz tempo que eu não uso um orelhão.
Mas eu vou acabar telefonando; desculpa, coração.
Então, vamo lá, eu ainda quero nós dois à mesa,
dois copos de chope,
nenhum ponto de contato,
as nossas mãos sobre a mesa,
nenhum ponto de contato; e eu digo - não era você, cara, não é.
E nesse ponto você segura a minha mão, e de repente eu penso que poderia ser,
mas sei que não é,
simplesmente sei, sempre soube, sei de um futuro tão longo, sei tudo pra sempre.

É claro que isso é também só cafonice e nonchalance:
faz muito tempo que eu não durmo direito.
Deixa ver, (...), dois meses e cinco dias. Uma loucura,
e vem então - não desiste, não desiste; nos sonhos é sempre tudo igual.
É muito difícil sucumbir no Rio,
uma culpa desgraçada.
Minha mãe no computador, fazendo contas: dívidas.
Eu no computador, fazendo contas (resisto à tentação de dizer dúvidas): saudade.
Mas eu aprendi sobre a dor: meu cérebro não sabe localizá-la muito bem. (Atencão você! Eu vou mentir:) manda tudo pro peito. Ah, mas e essa dor de cabeça, essa dor nos ombros, nas pernas, nas costas. Meu cérebro é burro, eu não. Tudo dói. Mas ainda é por causa dos meus cinco anos de idade.
E eu digo - não é você, não é.
Todo esse tempo, não era você.
Às vezes eu queria que fosse: você como qualquer um. Qualquer um de outro. Sozinha é simplesmente muito ruim.
Eu sou tão igual a todas.
E você ri e diz que sabe, que na verdade, nada te importa muito a não ser você mesmo.


3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Essa, a realidade-, essa,sua-, é, em verdade, tão igual a tudo que se é ímpar: todos, no fim, iguais.

5:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E, mais: todos inventam personas...Nada de mais, demais.

5:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Desses, sei lá, três anos em que ando por essas bandas, digo, sem pestanejar: um dos melhores, um dos melhores textos, - aqui.

1:03 da manhã  

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