14.10.07

Eu perco o tempo.
(Nem chega a ser surpresa o aviso no jornal – a maior supresa: já é outubro?)
(Nem chega a ser surpresa o aviso no jornal – amanhã o dia termina mais cedo, fica claro até mais tarde, então dormimos ainda mais, e quase nunca almoçamos na varanda)
Um descompasso de dois anos: sinto falta de escrever, de olhar o mundo com outros olhos, os seus, de ver como os olhos se aproximam, como o tempo demorava, demorou um dia a passar.
Os dias eram mais longos quando eu era mais jovem, o som do acordeão me irrita, todos os sons me incomodam, não são os sons sem som dos passos dos gatos; não são os fantasmas da sua antiga casa. Ninguém me entende mais e eu fico gargalhando, tão triste, tão inconsolavelmente alegre, tão perdida.
Sei como ninguém que é hora, finalmente (inicialmente), de apressar o passo, fazer valer a coragem, a fuga. E me sento aqui nesse sofá, eu gosto da brisa. Eu também (enganei todo mundo) gosto de brisa. Mas até tenho saudade de quando tudo era difícil, e era fácil escrever um poema, mesmo que ruim, mesmo que igual a todos os outros.