28.1.09

Fogo fátuo

Eu não lembro onde ela estava na última vez em que vi minha gata,
e eu não sei onde é que os pelos caídos dela ficam esquecidos agora.

Onde é que estão minhas pernas finas, meu walkman, meus cartazes?
Cadê o viço dos meus pais, a cor dos meus cabelos, a barraca de camping, o jogo da vida?

Não sei mais do meu livro nem das minhas mãos;
cadê a melodia fácil das palavras, as linhas, e aquilo que poderia ter sido meu brilho? Onde foi que eu meti as maravilhas da pontuação?

Nem sei em que canto deixei a cama do meu primeiro amor.

Não tenho nem por onde recomeçar; perdi o fio da meada; onde foi parar meu coração?

Que diabos, os anos passam, e o peito resiste e o peito reabre e acolhe e explode e sufoca, e o corpo persiste, o corpo emagrece e engorda, as pernas andam e a boca come. Enquanto o pulmão expulsa o ar num suspiro, com esforço constante o espírito prende a respiração.


3 Comments:

Blogger Raquel said...

nao poderia concordar mais

10:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

e a gente persiste. e ainda bem que persiste. e existe. :)

2:37 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Êita, é enorme!

9:09 da tarde  

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