eu não sei dançar
Mas eu já nem sei se é tão bom assim girar, meu bem, vê, tive um daqueles sonhos ruins e envolventes, daqueles que só se dissipam nas paredes dos quartos, a luz já acesa, e vão indo embora deixando o corpo ainda pregado à cama, como se de uma outra pessoa. (O corpo me dói, mas permite que eu fuja.) Eu rodava, rodava sem parar, mas não sabia se era movimento dos pés ou da cabeça, e os que seguravam minhas mãos - e que eu via rodarem junto comigo! - eu não sabia se rodavam, se me viam rodar ou se nem estavam ali. A luminária acesa e os cabelos das meninas ainda balançando na parede do quarto, clareando, clareando, balançando. Uma delas olhou pra trás antes de desaparecer. Elas riam. Minha roupa estava suja de vinho tinto e aquele lugar, eu conheço aquele lugar, já sonhei com ele. Meus pés me tombam com mil quilos, os olhos caem, e o relógio da vizinha dá sua uma badalada. O peito sufoca mudo, e o mundo. Eu sinto dedos de aranha passeando pelo meu couro cabeludo; é um filme de terror, eu sei, enquanto ali na sala, o mundo passa, normal, pela TV. Mas se eu começar a girar, você me segura até eu parar? Você joga o corpo sobre o meu pra me salvar?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home