17.6.06

de cidades e mutantes

Plec, plec, plec fazem os pés dos passarinhos no ar condicionado, e também o barulho que fazem, à minha janela fechada, quando voam, quando gritam. E os mamíferos que passeiam por calhas, forros, teto, muros. Os animais que fazem vírgulas à minha volta, e por que me incomodam tanto? E por que eu tenho medo aflição nojo? Faz tanto tempo, pouco tempo que eu vejo a cidade e é mais.

Mais.
Que eu vou ser linchada por lésbicas e feministas, me disseram, por causa do que estou escrevendo. Em última instância, por causa do que eu sou. Porque eu fui e vi e eu sei. Que eu preciso. Que, me desculpem os que virem nisso alguma grosseria (e não há), mulheres são buracos, como naquela obra. E toda a precisão, sim. Que não sou espírito, que mais: o espírito me prende, e é o corpo que me liberta.

Sim.
Que plec, toc, zum, os animais, e se houvesse qualquer calor neste quarto. E que eu sou triste por vício, mas preciso de um homem, com suas veias e silêncios, que me sacuda, segurando meus braços com força, os músculos tesos contra a carne doce. Versus a carne doce. Linchada por lésbicas e feministas, mas se sou eu. Se o livro é meu, e eu posso precisar do que precisar, que já não depende de mim, buraco.

Anatomia.
E eu sou forte. Maior que muito homem por aí, mas não. E eu sou frágil. Por favor, vê. Que essa cidade e esses animais me assustam, e que me amedronta mais a minha cabeça e que eu sei, eu grito nas mesas. Eu digo o que eu penso, mas às vezes invento, só pra falar mais alto, e me defendo. Mas contra cidades, cabeça, animais: braços e sexo. Força e imobilidade. Que eu espero. Que eu espero.