29.6.06

joana

(Talvez até a madrugada pudesse ser azul.)

De gozo violento agudo e cortante
de sobrar
de não fazer falta
de dizerem - vai.
elevador portaria carro
asfalto molhado ruas vazias.

(Mas no fundo, você sabe o óbvio: a morte espera em cada esquina.)

De, de...
reticências.

Parede espiral segredo -
azul marinho.

Sobre ir embora
sobre abrir mão
sobre dizer - vai.
(Você está tão cansada que só resta pedir mais.)
Tudo tende à inércia, mesmo o mais absurdo.

Chove e os termômetros do Rio marcam quinze graus,
os animais continuam passeando sobre meu teto;
então eu posso ser infeliz.

Eu não sei o que fazer do meu corpo
- a não ser vesti-lo.
Mas eu não dou dez voltas ao redor de mim mesma pra dizer uma frase:
eu digo.
Meus gestos
- talvez -
calam.
Mas meus braços, imóveis, gritam.

Eu poderia escrever os versos mais tristes todas as noites;
e isto continua não sendo um poema.

A alegria dói como a pele febril sob a água fria.
De felicidade não falo.
(Você escreve umas coisas tão bonitas quando tá triste.)

Eu sou do tipo que se espanta com os troços mais banais,
com o fato de as unhas crescerem.
Então eu rôo.

Meus cabelos, meus cabelos são grossos fartos mornos.

Tantos motivos, tantos fatos, ciscos,
e eu chorei foi quando o guarda-chuva não abriu.