7.2.07

independently blue

Porque a manhã está cor-de-rosa, tenho vontade de dizer coisas piegas a ninguém. Se as palavras soassem diferentes, se eu pudesse dizer qualquer coisa, como horas úmidas, impunemente. O sol desce sobre a cidade e é bem-vindo, porque chega em silêncio e sem sombras. Eu já não me lembrava. Ele vem sem calor.

É um momento tão meu quanto qualquer outro, mas especificamente necessário. Por isso não há que se espantar. Se possível, apenar ir, por educação. Porque são tácteis a incompreensão e o barulho. E a minha própria companhia é cada vez mais a minha preferida: calada e confortável, simples e profunda. Sem subterfúgios. Sem histerias. Sem o limite do outro (como se transforma em voz!).

E se me jogarem à turba, eu direi o mesmo.
Sob essa luz que pressente o outono,
Meus olhos perdem a cor azul.
O que é demais se esgota
E eu sou apenas.

E venta
Suavemente
Pela fresta da janela
Nesse meu rosto turvo
Que há tanto tempo não se vê

Mas

Em meio às palavras, o tempo mudou
O tempo mudou.
O cinza cresceu.
É opaca a minha cidade,
O tempo mudou.

(eu me pergunto se alguém viu,
ou se os minutos morreram em mim.)

Cheira a fruta podre no ar.
E o momento acabou.

Previsão para hoje: pancadas de chuva.

(São Paulo, 19 de março de 2005)


2 Comments:

Blogger Alice Sant'Anna said...

Este comentário foi removido pelo autor.

3:07 da manhã  
Blogger Alice Sant'Anna said...

lindas as cores dos seus textos.

3:07 da manhã  

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