30.4.08

Escurece e as paredes do meu quarto; de dentro das paredes do meu quarto, uma voz surda pede repetidamente: que eu me desespere. Só que a gata entra silenciosa, e ela é tão macia. E na janela ao lado a televisão fala tão alto. E a madrugada escorre e molha o meu cabelo.


3.4.08

A casa ainda não é minha,
meus pés eu sinto se sujam a cada passo
eu sempre saio de casa
antes
de chegar em casa.

Eu enumero as cores.
Três vezes vermelho
Duas vezes laranja
Também dois azuis,
um roxo,

E o amarelo que a gata escolheu
(arranha as unhas, faz manha).

Na parede ele me acena de longe no tempo
Respondo com um imperceptível gesto de rosto e olhos
de ainda mais longe, mais longe ainda.

No posto de gasolina,
o senhor me diz
- Só tem imundície, ninguém anda lado a lado.
Eu concordo, eu penso
- A verdade é que nada disso me importa
Minha dor está sempre em outro lugar.