25.11.06

solar

De descascar, desmontar bonecas russas, abrir pacotes de presente.
De chegar ao fundo;
flor que desabrocha depois de anos,
árvore de lichia. Ela me contou.
É que faltava esse raio de sol,
esse passeio ao domingo,
uma certa dose de cafonice,
uma garrafinha de guaraná.

(Já ouvi que a alegria mata a beleza; então escolho a mais intensa das batalhas, estendo os braços, vôo.)

Como um suspiro, um achado, um passo
de tango
de samba
de bossa,
te concedo esta dança. Te convido pra dançar.

Da janela, não é a estátua de braços abertos
que encerra em si uma caverna escura;
é o céu azul,
essa árvores cheias de flores amarelas,
o mundo em branco,
que vêm me abençoar.


19.11.06

on fait des bêtises



14.11.06

i'm ready to be heartbroken

olha essa mulher tão alta, toda de preto, essa fumaça que entra e sai, pulmões boca, tão preto, olha essa mulher, você não a alcança, tão triste, ela tão triste, a fumaça entra como tristeza, você diz, você está triste, a sala estala, chove, a fumaça entra pela boca, o cigarro queima, você diz, você mora sozinha, veio sozinha, está sozinha, ela sorri, a chuva estala, você diz, não diz, ela diz, um sorriso, os olhos lacrimejam, você está triste?, é só a fumaça, dança comigo?, não, mora sozinha?, não, ela desce as escadas, toda de preto, a fumaça tão preta, entra, sai, é só tristeza, ela bate os pés no chão, primeiros discreta, e então descompassadamante, essa mulher, essa fumaça, ela diz não me abandona, não me abandona!, não me abandona..., essa mulher é só fumaça, é só fumaça?


11.11.06

onze de doze

15 graus em novembro;
eu vejo da janela, e escuto.
Eu, garota zona sul. Do alto de um prédio pequeno,
do alto.
Faz frio em novembro;
pijama xadrez, pés gelados.
O nome dela do lado do meu,
o meu nome.
O seu telefone,
eu não sei.
Foi engano, esqueci no alfabeto.
Meu nome.
Anoitece mais tarde,
Mais tempo pra lembrar, esquecer
o frio
o teu nome
tatuado no braço –
dragão da vontade,
o inverno em plena primavera,
o verão que não chega,
do alto eu vejo o relógio marcar
2h33;
15 graus;
uma sexta-feira em novembro.


7.11.06

Vioxx

Você não vê que o rosto tá sempre prestes a se encharcar;
muito triste, que mesmo quando eu rio.
Que, quando eu rio, ah, muito mais.
É que eu já não abraço o mundo -
correm aqui dentro veias escuras, fios de aço.
Que eu não abro os braços porque é o pulso que se fecha;
não danço mais, o quadril rijo.
E o tempo passa rápido e sempre mais: unha-de-gato, garra-do-diabo.
Eu vejo do outro lado do espelho; não é bonito -
a velha encarquilhada, mãos tortas, poesia amarelenta.
Que ninguém gosta de gente infeliz,
que o meu texto é sujo, triste e pobre.
Que eu uso adjetivos demais e que
o mundo fecha os olhos pra tudo o que eu vejo.


5.11.06

alto
mar.


2.11.06

transparente/oculto/translúcido/opaco (ou - now i wanna be your dog)

É mesmo tanto desalento, sei, os lençóis sempre brancos, o piso do banheiro.
Não há violência maior que abrir os olhos; sei o quarto vazio, o peito.
Me vejo no espelho – uma boneca oca, órgãos drenados. Olhos caindo, caindo.
Me olho no espelho – coxas grossas, mãos que tremem.
Me espalho no carpete; respiro a sujeira. Os lençóis ainda brancos; brancas as horas.
A pele é a primeira: sente falta da frieza dos tacos; aqui também faz barulho.

(se você tem duas idéias, faça dois poemas; se tiver duas imagens,)

O chocolate derrete na boca. Não gosto
do doce
da textura suave.
Mas tenho fome e preguiça.
O chocolate deixa um gosto de solidão na boca quando acaba.

Agora sou eu
dançando sozinha
olhos fechados
braços ao alto.


1.11.06

el pasado

ele cheirando cocaína em cima do meu retrato - mas ele tem um retrato meu? ainda bem que ele não cheira cocaína.